O Duplo Paradigma da Amazon: Fim do Teletrabalho e Aposta na Robótica

A Amazon encontra-se no epicentro de duas grandes transformações no mercado laboral: por um lado, reverte a política de teletrabalho, chamando os funcionários de volta ao escritório, e, por outro, prepara uma automação em larga escala que poderá eliminar centenas de milhares de postos de trabalho nos seus armazéns.

O Regresso ao Escritório

A gigante do comércio eletrónico está entre as empresas que revertem as políticas de trabalho remoto implementadas durante a pandemia. A Amazon solicitou aos seus trabalhadores o regresso total ao trabalho presencial a partir de janeiro do próximo ano.

Esta decisão, no entanto, contrasta fortemente com a realidade observada em Portugal.

Portugal em Contraciclo

No mercado português, o trabalho remoto tem, na verdade, vindo a ganhar terreno desde 2024. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) referentes ao segundo trimestre deste ano, 20,2% das pessoas empregadas em Portugal encontravam-se em regime de teletrabalho, o que equivale a cerca de um milhão de pessoas.

Estes números indicam um crescimento de três pontos percentuais face ao final de 2024. Perante estes dados, as investigadoras Ana Alves da Silva e Eugénia Pires, do CoLabor (Laboratório Colaborativo para o Trabalho, Emprego e Proteção Social), referem que a tendência atual é “não só a da consolidação do recurso ao teletrabalho, como até de um ligeiro crescimento nos últimos anos”.

A Prevalência do Modelo Híbrido

Embora Soraia Duarte, secretária-geral adjunta da UGT, confirme que “sim, há empresas em Portugal que estão a reverter o teletrabalho”, os especialistas antecipam a prevalência de modelos mistos.

Rafael Rocha, diretor-geral da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), nota que o que se tem verificado é uma readaptação: “as empresas, após a experiência acumulada, estão a readaptar os seus modelos, passando sobretudo para modelos híbridos”.

As investigadoras do CoLabor identificam que o regime híbrido tem subido mesmo em profissões que habitualmente não são 100% compatíveis com o teletrabalho, como “assistente social, psicólogos ou outros profissionais das atividades de saúde humana e de apoio social”. As áreas com maior adesão continuam a ser as de informação e comunicação (73,7%) e as financeiras e de seguros (57,1%).

A Outra Transformação: 600.000 Empregos em Risco

Enquanto a Amazon debate o local de trabalho dos seus quadros corporativos, uma mudança mais profunda está planeada para as suas operações logísticas. A empresa planeia automatizar intensivamente os seus armazéns através da incorporação de mais robôs.

Um relatório interno, divulgado pelo The New York Times, confirmou que esta estratégia poderá impactar mais de 600.000 postos de trabalho.

O Impacto da Automação

A Amazon, o segundo maior empregador dos Estados Unidos, possui aproximadamente 1,56 milhões de funcionários a nível global, dos quais apenas 350.000 trabalham em escritórios.

Com a implementação crescente de robôs, a necessidade de trabalhadores humanos diminuirá. A empresa espera que, até 2033, centenas de milhares de empregos anteriormente preenchidos por humanos sejam substituídos por tecnologia. Segundo os relatórios, a Amazon poupa cerca de 30 cêntimos em cada artigo que envia quando não recorre a funcionários humanos.

A Resposta Oficial da Amazon

Após a fuga de informação, a Amazon negou que o objetivo do plano fosse reduzir a necessidade de trabalhadores. “Documentos que chegam à imprensa pintam muitas vezes um quadro incompleto e enganador dos nossos planos, e é esse o caso aqui”, declarou Kelly Nantel, porta-voz da Amazon, ao The New York Post.

Nantel sublinhou ainda o plano da empresa de contratar 250.000 funcionários para a época festiva, embora não tenha especificado quantas dessas oportunidades se tornarão permanentes.

Preocupações Sociais e Mitigação

A ameaça da redução de empregos nos armazéns já alarmou as comunidades que dependem deles. O Times notou que, nos EUA, os trabalhadores de armazém da Amazon têm três vezes mais probabilidade de serem negros.

A fuga de informação revelou também os planos da Amazon para mitigar reações adversas, aumentando as suas iniciativas de responsabilidade social. Além disso, a empresa introduziu termos como “co-bot” (em vez de “IA” ou “automação”), numa tentativa de sugerir que a tecnologia irá apenas auxiliar os trabalhadores humanos.

O receio é que outras grandes corporações sigam o exemplo para reduzir custos. Embora a Amazon sugira que a automação trará uma “curadoria de empregos”, muitos no setor veem a mudança como um disruptor inevitável do mercado de trabalho.

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