Duas Costas, um Oceano de Sabor: Da Cataplana Algarvia ao “Fish Chowder” Americano
O mar sempre foi uma fonte de inspiração para cozinhas de todo o mundo, dando origem a pratos que refletem a cultura e os ingredientes locais. Nesta viagem gastronómica, exploramos duas receitas distintas mas igualmente deliciosas, que nascem em costas opostas do Atlântico: a tradicional Cataplana de Peixes Mistos do Algarve, em Portugal, e o reconfortante “Fish Chowder” da Califórnia, nos Estados Unidos. Ambas celebram o peixe fresco, mas interpretam-no de formas completamente diferentes.
A Tradição Algarvia na Cataplana de Peixe
A cataplana não é apenas o nome de um prato, mas também do utensílio de cobre em forma de concha em que é cozinhado, um ícone da gastronomia do sul de Portugal. Esta receita algarvia é uma celebração dos sabores do mar, combinando diferentes tipos de peixe e marisco numa cozedura a vapor que concentra todos os aromas. A sua preparação é um ritual de camadas de sabor.
A base começa com um refogado lento de cebola em rodelas e alho picado em azeite. Sobre esta camada, adicionam-se pimentos verdes e tomate em cubos, que irão libertar os seus sucos durante a cozedura. De seguida, dispõe-se o peixe, tradicionalmente peixes robustos como tamboril e tintureira, previamente temperados com sal grosso. Para enriquecer o prato, juntam-se tiras de presunto e rodelas de chouriço, que conferem um sabor fumado e inconfundível.
O segredo está nos líquidos: uma generosa rega de vinho branco e um toque de whisky criam o vapor necessário para cozinhar os ingredientes na perfeição. Uma folha de louro acrescenta o seu aroma característico. Por fim, o camarão é disposto no topo antes de a cataplana ser fechada. Leva-se a lume brando por cerca de 20 minutos, sem nunca abrir, permitindo que todos os sabores se fundam. O prato é finalizado com salsa fresca picada e serve-se tipicamente com batatas cozidas ou arroz branco para absorver o molho rico e aromático.
O Conforto Cremoso do “Fish Chowder” da Califórnia
Atravessando o oceano, encontramos o “Fish Chowder”, uma sopa cremosa e substancial cuja receita foi partilhada pelos pescadores de Bodega Bay, na Califórnia. Este prato é sinónimo de conforto e é especialmente popular nos dias mais frios. Ao contrário da cataplana, que tem uma base de tomate e vinho, o “chowder” constrói o seu sabor a partir de uma base láctea e cremosa.
A preparação inicia-se salteando cebola, cogumelos e aipo em manteiga até ficarem macios. A esta mistura juntam-se batatas e caldo de galinha, deixando ferver em lume brando durante cerca de 10 minutos para que as batatas comecem a cozer. Só então se adiciona o peixe branco, como o bacalhau, que cozinha rapidamente no caldo quente.
O toque especial que intensifica o sabor a mar é o sumo de amêijoa, que é misturado com um pouco de farinha para engrossar a sopa. Esta mistura é incorporada no “chowder”, que ferve por mais um minuto. Os temperos são essenciais, com a mistura de especiarias “Old Bay seasoning”, sal e pimenta a darem o toque final. Fora do lume, adiciona-se leite evaporado, que confere uma textura aveludada e uma riqueza extra sem talhar. Cada tigela é servida bem quente, coroada com pedaços de bacon estaladiço e, para quem gosta de um toque picante, algumas gotas de molho picante.
Para uma refeição completa, este “chowder” acompanha perfeitamente com bolachas de água e sal (“oyster crackers”) ou pão estaladiço. É um prato que pode ser guardado no frigorífico num recipiente hermético por até quatro dias, tornando-se ainda mais saboroso no dia seguinte.